POR QUE ESTÁ ACONTECENDO AGORA?
Está ocorrendo um grande crescimento de ajuizamento de recuperações judiciais (RJ’s) em 2024 e, provavelmente, quebraremos o recorde histórico de 2016. Por que está acontecendo agora?
Os efeitos econômicos de uma crise normalmente demoram a aparecer nas métricas escolhidas. Para ajudar, na foto constam dois gráficos: (1) os números colhidos pela ABJ com dados de recuperações ajuizadas no Rio Grande do Sul entre 2010 e 2020, parte superior da foto. (2) Os números colhidos pela ABJ com dados de recuperações ajuizadas no Rio de Janeiro entre 2010 e 2021, parte inferior da foto.
Escolhi estes dados porque são os mais recentes disponíveis pela ABJ, cuja metodologia é uniforme nos vários Estados e fornece checagens adicionais que evitam os erros apontados no post de ontem.
O auge de ambos os gráficos está diretamente relacionado com a crise de 2014/2016, de forma que se verifica pico em 2016 no Rio Grande do Sul e em 2015/2018 no Rio de Janeiro.
Dois alertas são necessários: (a) houve alguma demora entre começar a recessão e agudizar o ajuizamento de recuperações judiciais; (b) no Rio de Janeiro o pico se manteve elevado mesmo após passar a crise nacional, porque a crise no Estado foi mais persistente, sendo um dos três Estados que se manteve em recessão em 2017, por exemplo.
Apesar de relacionarmos a crise com o início da recessão, em 2014, nacionalmente os números já se apresentavam perigosamente baixos na indústria nos anos imediatamente anteriores, demonstrando que o início da crise, em alguns segmentos, não foi 2014, mas anterior.
O que isso demonstra? Não é novidade, para quem estuda Jurimetria e Crise, que normalmente existe um delay, de dois a três anos, entre os sinais da crise e o efetivo incremento de ajuizamento de recuperações judiciais.
SEGUE:
Outra demonstração está em observar que, no Rio Grande do Sul, o ano mais baixo de ajuizamentos está justamente em 2020, mesmo ano em que tivemos a pandemia e uma inegável repercussão econômica drástica com o fechamento de muitos negócios. No Rio de Janeiro, em que aparecem os dados de 2020 e 2021, ambos são baixíssimos.
Obviamente, a pandemia não foi igual para todos. Para o comércio, representou drástico prejuízo. Para alguns setores do mercado agro, a variação internacional de commodities representou ganhos inesperados. Negócios muito pequenos simplesmente fecham as portas. Negócios maiores podem ser mais resilientes até que não consiga estancar os sinais de crise.
Claro que a discussão é mais complexa e com muitos fatores, influenciada até pela instabilidade da reforma de 2020. De toda forma, verifica-se que provavelmente o enorme crescimento de casos de agora tenha relação mais direta com os efeitos da pandemia.
No caso do Rio Grande do Sul, que em razão das enchentes de 2024 passa por crise talvez superior economicamente a da pandemia, lamento acreditar que o incremento atual não seja repercussão da enchente, mas sim da pandemia. Ainda teremos aqui no RS uma nova curva nos próximos anos que, infelizmente, represente a crise da enchente.
Relatório ABJ Rio Grande do Sul: https://abjur.github.io/obsRJRS/relatorio/index.html
Relatório ABJ Rio de Janeiro: https://abjur.github.io/obsRJRJ/relatorio/index.html